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Liberando a Filhinha do Papai


Mesmo tendo consciência de que as relações familiares interferem na liberdade e na autenticidade do indivíduo, eu ainda percebo que me influencio pela minha família. Às vezes, são influências tão sutis, que parecem que fazem parte de mim. Mas são crenças, jeitos, costumes que adquiri do meu meio familiar.


Anos e vidas de convivência, nascendo e crescendo por afinidades e crenças em carmas... Mas começo a me observar com mais clareza dentro dessa dinâmica familiar.


Fui criada numa família considerada pequena e que os poucos membros próximos da família não tinham uma convivência frequente. Meu pai sempre fez gênero de indiferente e, de certa forma, antissocial. Não se envolvia em polêmicas, não reclamava, não protestava.


Depois fui compreendendo, através das próprias palavras dele, que, por causa da sua posição econômica e social, trabalhando num dos melhores empregos públicos do país, ele acreditava que não tinha o que protestar.


Com isso, se mantinha alheio aos problemas sociais, apenas acompanhando as notícias pela TV, se indignando com a corrupção e com a crise mundial, mas sempre de uma forma muito conformista.

Minha mãe sempre fez o gênero mais dinâmico, inspirando-me a estudar e também a desobedecer. Era a “deslumbrada” da casa, contrapondo-se ao pessimismo e à passividade do meu pai. Mas, por mais que meu pai parecesse indiferente, tive muita influência dele ao longo da minha vida.


Por causa do movimento político e cultural dos anos 70 e 80, ele gostava de ouvir músicas internacionais. Nesta época, eu era criança e ouvia muito Bee Gees, Voyage, Elton John e outros cantores cujas músicas marcaram muito a minha infância. Então, por influência, adorava cantar músicas em inglês e passei a não me identificar muito com a MPB.


Eu costumava fazer alguns comentários de “filhinha do papai”, demonstrando certa indiferença às questões sociais, apesar de escolher passar por muitas experiências relacionadas à espiritualidade.


As questões humanas estavam sendo vivenciadas por mim através de uma área mais subjetiva. Quando criança, vivendo num ambiente “privilegiado” e protegido, não compreendia quem era rico nem quem era pobre.


Escolhi estudar em outra cidade, longe da minha família, e comecei a enxergar muita coisa sob uma ótica "não-familiar". Isso me ajudou a construir o meu próprio espaço, me reconhecendo e liberando minhas velhas identidades. Voltei a conviver mais perto da minha família e, desde então, muitas coisas estão vindo à tona para liberação e resolução. Manias e crenças do meu relacionamento familiar se apresentam diante de mim, como um filme a que assisto.


Está sendo bem interessante me ver como personagem deste filme, perceber cada nuance, compreender meus aspectos que atuam e interagem com os aspectos das pessoas que sempre fizeram parte da minha vida de uma forma muito mais influenciadora do que eu imaginava.


Estou vivenciando situações esclarecedoras e intensas sobre minha relação familiar ultimamente. E sinto que estou pronta para concluir o ciclo de velhos relacionamentos, de velhos padrões, criando Vida Nova para mim. E, enquanto o filme da minha velha história passa pela minha cabeça e pelo meu coração, respiro profundamente agora...


(Aline Bitencourt)



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